Notas sobre algumas inimigas da biodiversidade brasileira
- Por: Juliano Ricardo Fabricante
- 4 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

Introduzida no Brasil na década de 1980, Enneapogon cenchroides (capim-pena) é atualmente uma das maiores ameaças ao estrato herbáceo autóctone do vale do rio São Francisco. Devido aos seus atributos, em breve a espécie deve figurar como uma das gramíneas exóticas mais importantes (negativamente) em todo o semiárido nordestino. Segundo modelagem de nicho ecológico, a espécie apresenta probabilidade de ocorrência também no Cerrado e nas Florestas Estacionais (Decidual e Semidecidual). Possivelmente é só uma questão de tempo para que ela também invada esses outros bioma.

Calotropis procera (algodão-de-seda) é um arbusto “onipresente” no território nacional. A espécie invade especialmente ambientes ruderais e ambientes degradados. Nas cidades do semiárido brasileiro gera ônus substâncias para prefeituras devido a necessidade constante de controle em calçamentos, terrenos baldios e margens de rodovias e estradas.

Com extensão de ocorrência superior a 6 milhões de quilômetros quadrados e presença em praticamente todos os biomas brasileiros, Leucaena leucocephala (leucena) pode ser considerada a mais importante (negativamente) exótica invasora do País. A espécie invade principalmente ambientes ciliares da Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, mas também causa transtornos nas cidades, formando maciços populacionais em quintais, jardins, terrenos baldios e nas margens de rodovias e estradas. Alelopática, promove a homogeneização da flora, é tóxica para animais e hospedeira de pragas e doenças de lavouras. Por ser uma leguminosa, muitos ainda a recomendam para a recuperação de áreas degradadas. Hã? Acho melhor isso ser repensado!!!

Certamente um dos maiores problemas ambientais que a região semiárida brasileira terá que enfrentar nesse século. As algarobas (Prosopis juliflora e P. pallida) já invadiram mais de 1 milhão de hectares de Caatinga, especialmente as áreas de maior importância biológica: as matas ciliares. Introduzidas na região como a "salvação da lavoura", as algarobas são definitivamente o maior equivoco cometido nos últimos anos pelos órgãos de pesquisa brasileiros. Alelopática, resseca os solos e impede o restabelecimento do processo de sucessão ecológica. Onde há algaroba, há verdadeiros desertos ecológicos.

Introduzido no Brasil em 1990, o nim (Azadirachta indica) tornou-se uma das árvores mais utilizadas para a arborização urbana no semiárido nordestino. Nesse exato momento estamos vivenciando a mudança do status da espécie de naturalizada para exótica invasora. É extremamente necessário que sejam tomadas medidas enérgicas para se evitar mais um caso de invasão biológica na Caatinga. A proibição do comercio e plantio de mudas e a obrigatoriedade de substituição da espécie na arborização urbana por espécies nativas, deveriam ser implementadas imediatamente. Além de impedir o avanço do processo de sucessão ecológica, o nim diminui a sobrevida dos seus polinizadores. É isso mesmo, o nim é mais um agente causador de mortalidade de abelhas.

Arbusto nativo da Argentina e Bolívia, Nicotiana glauca (charuto-do-rei) era rara no Brasil até o início das obras de integração do rio São Francisco. Favorecida pelas alterações causadas pela referida obra, hoje a espécie forma adensados populacionais que chegam aos incríveis 37.000 indivíduos por hectare na Caatinga. Extremamente tóxica para animais e para o ser humano (com mortes documentadas), a espécie ainda é capaz de diminuir a disponibilidade de água nos solos. Devido sua alta densidade e poder alelopático, impede a resiliência dos sítios invadidos.

Uma das forragens mais disseminadas no Nordeste brasileiro, Cencrhus ciliaris (capim-buffel) é uma exótica capaz de invadir todos os tipos de ambientes, incluindo os fragmentos de vegetação em bom estado de conservação. Em experimento realizado no vale do São Francisco, evidenciou-se que a espécie é a ultima a ser consumida por caprinos e ovinos. Primeiro os animais consomem todas as espécies nativas. Pegunta-se: para que mesmo ela foi introduzida? Pesquisadores: invistam mais na seleção e melhoramento das espécies nativas. É um absurdo o que instituições de pesquisa brasileiras tem feito contra a nossa biodiversidade.

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